quinta-feira, 24 de abril de 2008

A Saúde Mental da Família dos Pacientes com Necessidades de Atendimento Domiciliar

O ponto de partida da proposta de atendimento domiciliar ao paciente idoso ou portador de outra necessidade de ajuda, é o reconhecimento de que este sujeito, (embora debilitado) tem uma história construída. A vida moderna oferece várias oportunidades para a população de capacidades limitadas e de idade mais avançada, através de associações e grupos de convivência e lazer, que por sua própria natureza excluem os que não tem autonomia, ou possibilidade da própria família, de se deslocar para os locais dos eventos. Então são deixados quietinhos nos seus aposentos que, confortáveis ou não, comportam sempre um grande espaço para a solidão.
No desenvolvimento natural da vida as pessoas vão ocupando inúmeros lugares e funções, determinados pelo deslocamento temporal.
Alguns doentes têm mais, (ou menos) dificuldade de se adaptar a essas mudanças, principalmente quando essa adaptação ocorre no mesmo ambiente em que vivem.
A introdução de novos hábitos e necessidades, com as mesmas pessoas que conviviam antes, sem dependência, pode ser sentida como uma perda de seus valores vitais, quando essa dependência passa a ser inevitável.
Esse atendimento é apropriado então, para as pessoas que, por suas próprias limitações ou de seus familiares sofrem um desgaste nessa transição. Começa na vida de um cidadão útil que passa a ser uma pessoa com maior carência de cuidados e atenção. Isso pode reforçar sua incapacidade de delinear uma adaptação a essas limitações, podendo produzir impaciência e irritabilidade tanto no paciente quanto nas pessoas que o cercam. Não são raros também os casos de depressão que desencadeia o agravamento de doenças físicas latentes ou pré-existentes, facilitando a regressão da sua qualidade de vida.
A atenção individualizada a esses doentes, pretende recriar um espaço novo, no lugar daquele aos poucos perdido, diminuindo a sobrecarga também, das pessoas de sua convivência em sua rotina de necessidades diárias.
O atendimento psicológico se propõe a diminuir o peso dessas exigências sendo introduzido como um novo elemento que, por não ter envolvimento nas relações familiares e emocionais do paciente, poderá servir de anteparo e acolhimento às suas angústias.
Durante o tempo do atendimento o paciente poderá se beneficiar diminuindo seu nível de sofrimento na medida em que suas queixas possam ser escutadas, como verdades de cada um.
A própria “repetição” dessas queixas, que aos poucos se torna insuportável para a família, deixa de ser simples repetição para se transformar em temas que poderão ser desenvolvidos através de diversos trabalhos com ou sem material concreto.
O objetivo do tratamento não é produzir mudanças, mas sim, possibilidades de mudanças com o resgate de habilidades adormecidas. Esse trabalho poderá despertar a capacidade de transmitir seus conhecimentos e valores para um profissional disponível e capacitado para acolher seus sentimentos, atuando também, como exercício de memória ou de outras funções comprometidas.
Nessa evolução a expectativa é de que o peso das questões abordadas anteriormente seja, de início, dividido com a psicóloga, para depois ser redistribuído dentro das possibilidades existentes.
MARIA LUIZA ALBANO MELLO CANÇADO



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